Desastrado e desatento piso em um ovo de pássaro que estava sobre o solo.
Não vi e pisei, com o peso da culpa matei um ser a vir ao mundo. Antes do.momento e antes da hora acabei com o último suspiro de sua vinda
Matei um pássaro.
Sou culpado, assassino e me entrego a este momento de pura dor.
Não acredito que não fui capaz de vizualizar aquele ovo ali parado.
Sim, matei a possibilidade de vida por vir.
Não tenho certeza ainda, apesar de saber que o ovo partiu-se pelo peso de meu passo.
Não sei o que pensar e meu estômago dói.
Será que o fato dele não estar mais no ninho já houvesse selado seu destino tão efêmero.
Já não sei como reagir e confesso que tudo está confuso neste momento e nem mesmo o baseado enrolado importa mais.
Sofro com esse atravessamento, sinto que sou responsável por essa situação.
Que sou aquele que impediu o prosseguimento de uma vida.
Não sei sequer se o ovo era de pássaro, mas a sensação e o barulho acusaram o meu ato violento e, ao voltar para ver, não fui capaz de olhar diretamente.
Vi o pequenino corpo ali em meio aos pedaços de sua couraça primeira. De sua proteção contra os maus avisados e o maliciosos animais que atentam conta a sua existência, mas uma conjunção de acasos fizeram-me o seu algoz.
Que triste!
Não quero andar mais desatento nesses aparelhos de celelulares.
Sinto-me muito chateado.
E esse é o começo de um mês antes do fim.
A vida que se foi está a se renovar em mim.
Não quero esse peso, não quero sentir a morte de outro que não seja aquilo que sinto. Enterro esse sentimento com uma vontade louca de tirar isso de dentro. Que isso não esteja onde está e que isso não vá para nenhum lugar que não seja o seu lugar.
Desejo uma boa passagem para aquilo que viria a ser. Sejamos outra coisa juntos a partir de agora.
Vá bem, mesmo que já tivesse partido, que não sejas jamais menos do que poderia ser.
Que o sopro do vento de agora seja a resposta de uma boa partida.
Te espero em uma condição que nos ponha enquanto iguais para poder desculpar-me.
Não é para ser nada, mas para ser tudo.
Vais e vou.
Nascemos e morremos agora, e agora, e agora, e agora, e agora.