Percebo com aceleramento as coisas. Como se um ciclo sempre fizesse sua volta e chegasse a um estranho conhecido ponto inicial. Você retorna. Como ciclos naturais. Um ano conforma-se, aconchega-se a seu leito de morte, no frio de seu final, e põe suas mãos endurecidas sobre o peito nu.
O poder que detinha fora enfraquecendo, como as migalhas e restos que insistiam em cair de vossa barba. Não olhastes no espelho, suas piadas, suas histórias, são as mesmas.
Como se não houvesse mais o fluxo de ligação entre suas palavras, vazias, fracas, frouxas, por isso em franco declínio e decadência, sem vida.
Uma cena assim: um senil senhor que insiste em galantear a primavera, o inverno que, caquético, nem se percebe atemporal, deslocado e perdido.
O que fica cristalino são as mesmas práticas, como um maquinário fabril de um fazer enferrujado que procura ater-se as histórias de uma outra vida, uma vida pregressa, livre e diferenciada da mesmice na qual se encerra.
O velho ainda enxerga e procura a perfeição de um tempo. Essa ilusão vendida em frascos a preços exorbitantes, este elixir da salvação das almas desesperadas. Caro amigo, isso não existe!
Velho tempo, você se foi junto com o frescor de suas farsas. Seu prelúdio serve ao ludibrio, tão comum às suas ações, repetidas, reprodutórias, fracassadas.
Sabemos, tu e eu, que não se pode viver disto. A vida apresenta-lhe outra. Você faz o que com isso?
Duro quando cai a máscara que inventamos de nós mesmos não é, meu caro? O perfeito não existe! Há sempre o anômalo, o diferente, o estranho, o inesperado que irrompem nossas expectativas, transformando-as em outros estados, estágios de ser e sentir o mundo e nós mesmos.
O que diria, velho amigo, se pudesse dar-lhe este retorno: Suas palavras são tão viperinas, suas atitudes soam-me com ruídos de um farfalhar de metais em estridência de contato. Como taças a quebrar, mas ecoando de um passado tão longínquo, com uma insistência falsa.
Meu velho, suas palavras estagnadas parecem as de um burguês fingindo ser revolucionário, parecem-me a caricatura de uma imagem construída de si.
E esta é uma das formas que tens para agir.
Bem, vamos criar flexões novas?
Nenhum comentário:
Postar um comentário